CEASA – transformando desperdício de alimentos em desenvolvimento sustentável

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As Centrais de Abastecimento, mais conhecidas como CEASAs, foram a solução encontrada pelo governo brasileiro na década de 60 quando o Governo Federal identificou um problema enorme no sistema de comercialização de produtos hortigranjeiros em todo o território nacional.

Baseada em soluções internacionais semelhantes e também contando com a ajuda da FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), as Ceasas são empresas estatais ou de capital misto com o objetivo de promover, desenvolver, regular, dinamizar e organizar a comercialização de produtos da hortifruticultura a nível de atacado em uma determinada região e fazem parte do Programa brasileiro de modernização do Mercado Hortifrutigranjeiro. As CEASAs alugam seus inúmeros armazéns, mais conhecidos como BOXs, para empresas privadas na forma de licitação que podem então comercializar seus produtos diretamente com o consumidor final.

Segundo o Informativo da Classificação Anual de Comercialização da Ceasa no Período de 2011 e 2012 da CONAB, as Ceasas estão presentes em 52 das principais cidades brasileiras. Ainda no site da CONAB, no ano de 2012 foram comercializados 15.439.621.593 kg de alimentos em todo o país, isso mesmo, quase 15,5 milhões de toneladas de alimentos.

Apesar dos belos números apresentados na produção e comercialização de alimentos, quando observamos o quadro geral a alegria logo vira espanto, é que segundo uma estimativa publicada no próprio site das CEASAS do Governo federal, cerca de 30% do todo o desperdício de alimentos em território brasileiro acontece justamente pela falta de estrutura e plano de gerenciamento de resíduos nas CEASAs.

“Estima-se que no Brasil, do total de desperdício de alimentos, 10% ocorre durante a colheita; 50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento e os últimos 10% ficam diluídos entre os supermercados e consumidores (Dias, 2003), representando valores entre 7,5 a 10 milhões de toneladas por ano no desperdício de alimentos.” Site Central das CEASAS do Governo Federal

Dentro deste contexto, a Política Nacional de Resíduos Sólidos vem em boa hora e em seu Art. 20 Inciso V deixa claro que responsáveis por atividades agrosilvopastoris são obrigados a elaborarem seus próprios planos de gerenciamento de resíduos sólidos. Os responsáveis por cobrarem que as CEASAs elaborem de fato seus devidos PGRS são as prefeituras das cidades onde as CEASAs estão instaladas. Essa exigência está presente dentro do conteúdo mínimo dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos que os municípios brasileiros já deveriam ter entregue até agosto de 2012.

Um bom Plano de Gerenciamento de Resíduos deve levar a ordem de prioridade no gerenciamento destes resíduos determinado na Lei 12.305/10, a Política Nacional de Resíduos Sólidos,  e poderia funcionar por exemplo da seguinte forma:

  1. Não Geração – A geração de resíduos orgânicos se dá basicamente pela decomposição de matéria orgânica. Uma forma simples de retardar o apodrecimento dos alimentos é um com acondicionamento. No caso das CEASAs, isso se dá com boas e espaçosas câmaras frigoríficas. Outro fator importante é o trabalho de implantação da Educação Ambiental para todos os que trabalham diariamante nas centrais de abastecimento.
  2. Redução – Melhoria na eficiência do gerenciamento dos alimentos
  3. Reutilização – Antes de apodrecerem, os alimentos poderiam ser transformados em sucos em centrais de processamento para este fim.
  4. Reciclagem – embalagens
  5. Tratamento – os resíduos orgânicos poderiam ser tratados em biodigestores para a produção de biogás e posterior energia térmica e elétrica como acontece em países desenvolvidos. Essa energia poderia servir para abastecer toda a CEASA incluindo suas câmaras frigoríficas. Os resíduos gerados em uma CEASA como em Belém do Pará, poderia alimentar um biodigestor com potencia elétrica instalada de até 3 MW.
  6. Destinação Final – Como os resíduos orgânicos podem comprovadamente serem tratados seja por biodigestores ou compostagem, nenhum resíduos deste tipo deveria ser encaminhado a aterros sanitários. Na Alemanha existe uma proibição para disposição de resíduos orgânicos em aterros sanitários justamente pelo potencial de reaproveitamento.

Na cidade de Marl na Alemanha existe um biodigestor da empresa Refood que processa diariamente até 300 ton de resíduos orgânicos muito semelhantes aos encontrados na CEASAs brasileiras e sua potencia elétrica máxima  é de 3 MW. Certamente esta central poderia servir de referencia para o Brasil. Na excursão organizada pelo Portal Resíduos Sólidos, tivemos a oportunidade de visitar essa central.
Veja mais sobre a CEASA neste vídeo institucional

Em busca de soluções, o primeiro passo para saber quais as melhores estratégias para o gerenciamento de resíduos de uma CEASA é sem dúvida o cumprimento das determinações da PNRS e elaborar um bom Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos – PGRS. Este PGRS deve apontar soluções baseadas em um diagnóstico geral da CEASA assim como um estudo gravimétrico dos resíduos destas centrais. Neste sentido, o Portal Resíduos Sólidos reafirma seu comprometimento com o desenvolvimento sustentável no Brasil oferecendo serviços de consultoria tanto para a realização desses trabalhos como na qualificação de consultores já contratados por estas centrais para tal fim.

No vídeo abaixo feito em 2012, eu fiz um levantamento por conta própria do potencial de geração de riquezas na CEASA de Belém do Pará, minha terra natal. Não se espantem com alguns comentários inconformados com a constatação de que com um pouco de vontade seria possível gerar emprego, renda e desenvolvimento para nossas cidades. Conversando com investidores europeus vi muita vontade de investir em projetos como o descrito no vídeo abaixo, porém a vontade de investir sempre acaba quando não existe política clara e definida, como por exemplo com a falta de um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

A melhor maneira de identificar o modelo de negócio ideal com viabilidade econômica é através da elaboração de um Plano de Negócios especifico por profissionais competentes. O Portal Resíduos Sólidos oferece esse serviço para os mais diversos negócios do setor de resíduos. Para saber mais, entre em contato por email (comercial@virapuru.com).

Gleysson B. Machado

Gleysson B. Machado

Sou especialista em transformar problemas ambientais em negócios sustentáveis. Formado em Dip. Ing. Verfahrenstechnik (Eng. Química) pela Universidade de Ciências Aplicadas de Frankfurt/M na Alemanha com especialização e experiência em Tecnologias para geração de Energia e Engenharia Ambiental. Larga experiência em Resíduos Sólidos com foco em Biodigestores Anaeróbios
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